Ter uma alimentação saudável deixou de ser uma recomendação médica para ser uma moda disseminada através das redes sociais. Especialmente no Instagram, os millennials contribuem para este feito com as suas imagens fantásticas repletas de frutas, saladas decoradas, smoothies, sumos naturais, etc. Uma moda positiva, sem dúvida, que ajudou a reduzir as doenças causadas por uma má alimentação. Recentemente, um estudo publicado na revista científica The Lancet, estima que 11 milhões de mortes por ano estão relacionadas com uma má alimentação.
Levado ao extremo, encontramos um transtorno alimentar pouco conhecido que tem vindo a ganhar terreno nos últimos anos. Falamos da ortorexia nervosa, uma obsessão em consumir alimentos considerados saudáveis.
Será a ortorexia um distúrbio alimentar?
Conhecidos como transtornos alimentares, referem-se ao comportamento que uma pessoa tem perante a comida, e apresentam repercussões frequentes no peso e na aparência física, além de consequências psicológicas e sociais.
Existem três doenças comummente reconhecidas como transtornos alimentares: anorexia nervosa, bulimia e transtorno da compulsão alimentar periódica. No entanto, a ortorexia não é reconhecida no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação norte-americana de psiquiatria, o organismo mais influente a nível mundial, apesar de ser reconhecido no site da Associação de Transtornos Alimentares do mesmo país (NEDA), que este transtorno "está a aumentar".
O que é a ortorexia e quais são os seus efeitos?
O termo nasceu no ano 2000 com o Dr. Steven Bratman e o seu livro "Health Food Junkies". A ortorexia é a obsessão de consumir alimentos saudáveis e tem efeitos como o isolamento social ou o sentimento de culpa.
A diferença entre este e os outros transtornos alimentares é que, neste caso, a quantidade de alimentos não importa (levado ao extremo falamos de bulimia, e no caso de carência falamos de anorexia), mas antes a qualidade destes.
Os efeitos aparecem fundamentalmente quando a pessoa não consegue manter uma disciplina alimentar e desenvolve sentimentos de culpa, preferindo mesmo o jejum a comer alimentos que não considere saudáveis.
No entanto, a ortorexia tem efeitos ainda mais radicais na vida social de uma pessoa que sofre deste distúrbio. Uma característica vincada deste transtorno é a necessidade de planear o menu diário da sua alimentação. Levado ao extremo, as pessoas deixam de comer fora de casa, por não saberem a origem dos produtos ou por desconhecerem a proveniência dos alimentos ou a forma como foram cozinhados. Como o Dr. Bratman explica no seu livro "estas pessoas têm um menu, em vez de uma vida".
Teste para detetar a ortorexia
Não há um tratamento específico para a ortorexia, mas para muitos profissionais é tratada como uma variante da anorexia, visto que é um transtorno obsessivo-compulsivo. Além disso, como explicado pelo NEDA, embora não existam números concretos sobre quantas pessoas sofrem de ortorexia, esta está profundamente relacionada com outros distúrbios, onde se inclui "uma anorexia mal curada".
A associação NEDA recomenda que responda a uma série de perguntas para saber qual o seu nível de obsessão por uma dieta saudável. Desta forma, quanto maior o número de respostas afirmativas, maior a probabilidade de estar a desenvolver um transtorno deste género.
- Gasta mais de três horas por dia a pensar na sua alimentação?
- Planeia as suas refeições com muitos dias de antecedência?
- Considera que o valor nutricional de uma refeição é mais importante do que o prazer que esta proporciona?
- A sua qualidade de vida diminuiu à medida que a qualidade da sua dieta aumentou?
- A sua autoestima melhorou ao praticar uma alimentação mais saudável?
- Já desistiu de comer alimentos dos quais gostava porque não os considera “saudáveis”?
- Evita comer fora e tal distancia-o dos seus amigos e familiares?
- Sente-se culpado quando “falha” na sua dieta?
- Sente-se em paz consigo mesmo e acredita que tudo está sob controlo quando come de forma saudável?
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