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Redes sociais, jovens e depressão, qual a relação?

A globalização e o constante desenvolvimento de equipamentos digitais permitiram que todos nós estejamos conectados através dos nossos telefones e computadores e, portanto, expostos a um fluxo de informação constante. De acordo com um estudo efetuado pela Marktest no âmbito do tema tecnologia digital, até fevereiro de 2018 existiam mais de nove milhões de utilizadores de telemóvel no nosso país (ou seja, 96,5% dos residentes em Portugal) e 5,3 milhões de utilizadores ativos nas redes sociais. No entanto, a população jovem, os Millennials e a Geração Z que inclui a faixa etária dos 16 aos 23 anos, são os que mais usam a Internet; alguns estudos revelam que 87% dos jovens da Geração Z ligam-se diariamente à web para usarem as redes sociais, enviarem mails e comunicarem em tempo real.

Alguns dos benefícios das redes sociais incluem comunicação e interatividade rápidas e eficazes, visibilidade e oportunidade para fazer uma denúncia social, uma fonte para obter e partilhar informações…

No entanto, estudos efetuados mostram que muitas vezes o uso das redes sociais pode ser prejudicial à saúde mental dos utilizadores, ao gerar inquietação, ansiedade e até depressão.

Alguns dos fatores e comportamentos que podem provocar distúrbios do sono, ansiedade e depressão devido à utilização de redes sociais são:

  • Tentativa constante de mostrar a sua vida: existem aplicações que facilitam bastante que os utilizadores partilhem “o que está a acontecer”, tal como diz o slogan do Twitter. Esta prática permite fazer o upload de imagens e vídeos através de publicações ou as famosas “histórias”, como no Instagram ou Snapchat, a mostrar onde está, com quem está, o que está a comer… enfim, uma janela para que os seguidores entrem na sua vida ou pelo menos no reflexo da mesma, já que o problema é que muitas pessoas partilham apenas a vida que querem refletir para os seus seguidores, e não a que realmente acontece. Seja pela aparência ou ilusão, estas práticas geram ansiedade e nervosismo naqueles que a praticam no momento em que enfrentam um obstáculo que não lhes permite usar as redes sociais, ou quando não têm os elementos necessários para fazer uma publicação atrativa. Teresa Paiva, médica especialista em neurologia, afirma que “a pessoa acha-se muito importante. Além de poder criar uma imagem desfasada de si própria, é capaz de relatar pequenas coisas que, de facto, não interessam aos outros. Está conectada com o mundo, mas passa a ter uma centralização num universo pequeno. Nas redes sociais há sempre uma atitude otimista do gosto”.
  • Obsessão pelos “gostos” de outros: os conhecidos “likes” ou “gostos”, refletem o impacto que as nossas publicações têm nas outras pessoas. Não é problemático vermos os “gostos” que as nossas publicações tiveram, já que é assim que as redes sociais funcionam. O problema surge quando os utilizadores sentem-se totalmente condicionados e se gera um estado de dependência deste funcionamento, no sentido de a felicidade e o bem-estar ficarem dependentes disto. A Secretaria Regional da Saúde já redigiu um documento a alertar para a influência das redes sociais e suas aplicações na vida dos jovens, onde afirma que as gerações mais jovens movem-se “pelo número de “likes” nas fotografias e publicações, pelo número de amigos ou seguidores nas redes sociais (amigos virtuais, porque não os conhecem na realidade), pela maior partilha de informação pessoal na sua página e é aqui que devemos ter alguma atenção”.
  • Sentimento de estar sempre a perder algo: As redes sociais mantêm-nos constantemente informados, quer pela imprensa quer pelas pessoas que seguimos e assim conseguimos saber as últimas notícias sobre qualquer assunto. No entanto, o vício em smartphones e nas redes sociais gerou nas pessoas dependentes uma conduta baseada em entrar nos seus perfis e verificar, com muito pouco tempo de intervalo, as atualizações das pessoas que seguem. Este comportamento faz com que estas pessoas sintam ansiedade e desfrutem de menos horas de sono, devido ao uso do telemóvel e da incapacidade de desconectar.

Se está a ler isto e considera que sofre de algum dos problemas e comportamentos mencionados, ou que conhece alguém próximo de si que sofre, estes são os conselhos que podem ajudar a reduzir o stress e a utilização de telemóveis e redes sociais para evitar consequências:

  • Quando nos encontramos com amigos ou familiares, devemos tentar desligar o telefone ou mantê-lo afastado para não o utilizarmos; não devemos publicar tudo o que fazemos, já que isso limita a possibilidade de usufruir da ocasião, além de perder momentos irrepetíveis. O objetivo deve ser desfrutar do momento, sem pensar no que as pessoas podem dizer.
  • Aprenda a gerir críticas: ainda que tenhamos decidido expor as nossas vidas nas redes sociais para que as pessoas mostrem que “gostam”, devemos ter em conta que não podemos agradar a todos. No caso das pessoas cuja autoestima e felicidade estão dependentes dos seus “likes”, estas devem considerar que a opinião de algumas pessoas não corresponde, nem à opinião geral, nem à opinião das pessoas realmente importantes, como familiares e amigos.
  • Estabeleça horários para a utilização do telemóvel: em vez de olharmos para os nossos ecrãs de 10 em 10 minutos, um dos conselhos é gerir o tempo que gastamos nele. Se decidirmos que a utilização das redes sociais faz parte do nosso tempo livre, devemos definir um horário realista, para não passar mais tempo do que o necessário à frente do ecrã do smartphone, dando prioridade às relações sociais reais. De facto, um estudo realizado pela Universidade da Pensilvânia revelou que limitar a utilização das redes sociais a 30 minutos por dia reduz os sinais de depressão e solidão.
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